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Covid-19
Voo fretado pelo governo federal traz nesta segunda (30.03) 159 brasileiros do Equador, entre eles nove nadadores paralímpicos
Atualizada em 30.03, às 16h45
Um voo fretado programado para decolar do Aeroporto Internacional Mariscal Sucre, na região metropolitana de Quito, nesta segunda-feira (30.03), às 18h, vai encerrar um período de incertezas para 159 brasileiros. Eles ficaram retidos na capital equatoriana em função de restrições no espaço aéreo do país sul-americano decorrentes da crise provocada pela pandemia do Covid-19 (novo coronavírus). A previsão de chegada a São Paulo é às 2h10 do dia 31 de março.
A operação é resultado de uma negociação direta do Ministério da Relações Exteriores do Brasil com a empresa aérea que vai prestar o serviço e a Embaixada Brasileira em Quito. No processo de discussão para equacionar a situação dentro do governo federal, foram envolvidos integrantes de várias pastas federais, como Ministério da Defesa, Casa Civil, Ministério do Turismo, Embratur, Anac e Ministério da Cidadania, este último via Secretaria Especial do Esporte.
- Grupo brasileiro já no aeroporto esperando o retorno ao Brasil. Foto: Arquivo pessoal
Isso porque no grupo há vários atletas, incluindo dez integrantes de uma delegação de natação paralímpica nacional, nove atletas e um técnico. Quando eles embarcaram para o Equador, em 3 de março, o horizonte em mente era bem distante do atual. A equipe da cidade paulista de Indaiatuba buscava um período de treinamento na altitude de 2.560 metros de Cuenca.
O objetivo era lapidar o elenco para o Open Internacional de Natação, que seria realizado no Centro de Treinamento Paralímpico de São Paulo de 26 a 28 de março. A competição era uma das oportunidades para obtenção de índices para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, no Japão.
O time de Indaiatuba conta com jovens talentos, como Victor Viana, e atletas de larga experiência internacional, casos de Raquel Viel, que atuou nos mundiais de 2009, 2015 e 2017 e disputou as duas últimas edições dos Jogos Paralímpicos, além de Cecília Araújo, da Classe S8, campeã mundial em 2017 nos 50m livre e medalhista de prata nos 100m costas. Oito dos nove atletas são ou já foram integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.
A equipe de natação paralímpica em Quito
Alan Augusto da Silva Santos
André Luis Bento da Silva Filho
Andrey Ribeiro Madeira
Antonio Luiz Duarte Cândido - técnico
Cecília Araújo - Campeã mundial nos 50m livre da categoria S8 e medalhista de prata nos 100m costa em 2017. Finalista nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Vice-campeã mundial em 2019. Integrante da Bolsa Pódio.
Felipe Caltran - Disputou o Parapan em 2015 e 2019, além dos mundiais de 2015, 2017 e 2019. Integrante da Bolsa Atleta categoria paralímpica.
Lucilene Sousa - Disputou os Jogos Parapan-Americanos e o Mundial de 2019.
Raquel Viel - Esteve nos mundiais de 2015, 2017 e 2019. Disputou os Jogos Pan-Americanos em 2011 e 2015, e os Jogos Paralímpicos de 2012 e 2016. Integrante da Bolsa Pódio.
Tais Bobato - Bolsista da categoria nacional, disputou o Mundial da Federação Internacional do Esporte para Amputados e Cadeirantes em 2013.
Victor Viana - Integrante da Bolsa Atleta na categoria Nacional.
De lá para cá, muita coisa mudou, no Brasil e no mundo. A competição no CT de São Paulo foi cancelada em função das restrições sociais impostas pela pandemia. Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio foram adiados. O espaço aéreo do Peru foi fechado para pousos e decolagens e o retorno dos brasileiros, originalmente marcado para 21 de março e que tinha escala em Lima, não pôde se concretizar.
"Foi tudo muito rápido. A gente teve a informação de que o espaço aéreo no Peru seria fechado para voos internacionais em 15 de março. Tentamos antecipar o voo, mas o valor por pessoa era alto. Não havia possibilidade. Nesse meio tempo, o Aeroporto de Cuenca, no Equador, que só faz voos locais, fechou também. Não tinha como a gente chegar a Quito. Com o auxílio do consulado brasileiro, fomos de van até a capital. Quase nove horas de estrada", narrou Antonio Luiz Duarte Cândido, técnico da equipe de natação.
#Itamaratybrasileiros/Equador:🇪🇨 O voo de repatriação de 159 brasileiros retidos no Equador foi antecipado p/ amanhã, 30/3. O voo decolará de Quito às 18h05 e pousará em SP às 02h10 do dia 31.
— Itamaraty Brasil🇧🇷 (@ItamaratyGovBr) March 29, 2020
Na capital equatoriana, o grupo passou a ter, além do suporte da diplomacia brasileira, auxílios do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e da prefeitura de Indaiatuba para hospedagem e alimentação. "O Equador trabalha com dólar e isso fez o custo aqui ficar alto. Tentamos ajuda de muitas pessoas", comentou o atleta Victor Viana, um dos integrantes da delegação, em vídeo que viralizou nas redes sociais.
"Conseguimos garantir a hospedagem deles num hotel. Temos mantido contato todos os dias na tentativa de dar tranquilidade a eles", afirmou o presidente do CPB, Mizael Conrado, que teve diálogos durante a semana com o secretário Especial do Esporte, Marcelo Magalhães. Para o dirigente, o governo federal foi proativo na situação. "Não é fácil. Tem as burocracias do Equador que precisam ser cumpridas. O Equador está com toque de recolher depois das 14h, uma situação de isolamento. É uma operação desafiadora e só temos a agradecer a todo o empenho federal para trazer todos de lá", completou.
Em seu perfil institucional no Twitter, o Ministério das Relações Exteriores publicou neste domingo que é a primeira vez que o Itamaraty freta aviões para repatriação de brasileiros retidos compulsoriamente no exterior. "Crise nova, soluções novas. O voo que trará os brasileiros levará equatorianos de volta para casa, em demonstração de ação internacional solidária", indicou a postagem. Ao todo, há ainda cerca de sete mil brasileiros a repatriar mundo afora. A prioridade federal tem sido pelos locais onde não há voos comerciais em operação, caso do Equador.
Segundo o técnico Antonio Luiz Duarte, apesar da frustração inerente ao fato de um investimento grande para um treinamento ter se perdido diante das circunstâncias, a equipe retorna fortalecida. "Todos voltarão mais fortes psicologicamente. O efeito do treinamento de altitude não terá benefícios, uma vez que as Paralimpíadas serão só daqui a um ano. De qualquer forma, serviu para mostrar a eles o poder quando o grupo está unido. Estamos todos bem dentro do possível. Esperamos que todos os brasileiros que estão na mesma situação que nós possam regressar ao país para cumprir a quarentena em suas casas, com o conforto do lar", disse.
Serviço
O site da Embaixada do Brasil em Quito reúne todas as informações necessárias para os brasileiros interessados no voo que virá ao Brasil. Desde a documentação necessária até as opções de traslados gratuitos e os requisitos para despacho de bagagem. Em função do Toque de Recolher adotado no país, todos devem se apresentar no Parque La Carolina, ponto de encontro para o traslado, impreterivelmente até as 12h30. O portal do Ministério das Relações Exteriores também reúne uma série de informações e serviços para brasileiros que estejam fora do país e precisando de auxílio para retornar.
- Equipe que representaria o Brasil no Pan de Muaythai. Resgatados no Peru. Foto: Arquivo pessoal
Ação similar no Peru
O Ministério da Cidadania também se envolveu na operação que trouxe para casa um grupo de atletas do muaythai que, no Peru, a exemplo dos nadadores paralímpicos no Equador, sofreu as consequências da pandemia do COVID-19. O time formado pelos atletas Shaylana da Silva, João Pedro da Silva, Leila da Silva, Isaque Ramos, Douglas Gonçalves e pelo técnico Álvaro Gama deixou o Brasil em 12 de março para disputar, em Lima, o Pan-Americano de Muaythai, previsto para o período entre 16 e 22 de março.
No dia 14, os brasileiros foram informados do cancelamento do evento devido às restrições no país causadas pelo coronavírus. Esse, entretanto, foi o menor dos problemas, já que com fechamento das fronteiras aéreas, marítimas e terrestres no Peru, a equipe acabou sem ter como voltar ao Brasil.
“No dia 15, tivemos a informação de que seria fechado o espaço aéreo e que o país iria entrar em quarentena. Pediram para a gente ir ao aeroporto às pressas, mas já tinha tudo sido cancelado, o aeroporto estava fechado. Aí, a gente ficou em quarentena por alguns dias”, conta Álvaro Gama.
Diante das incertezas e com informações de que teriam que ficar mais duas semanas em Lima, o grupo divulgou um vídeo nas redes sociais no qual narrava o drama da equipe no Peru. A Confederação Brasileira de Muaythai Tradicional (CBMTT), então, acionou a Secretaria Especial do Esporte. O secretário Marcelo Magalhães levou o caso ao conhecimento do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, e teve início uma série de contatos que envolveram o Ministério das Relações Exteriores e a Embaixada do Brasil no Peru com o governo peruano para que a situação pudesse ser resolvida.
“Depois que a Secretaria Especial do Esporte e os órgãos competentes entraram em contato com eles (da embaixada) a situação ficou mais fácil. As pessoas entraram em contato com a gente e nós ficamos mais tranquilos. Apesar de não sabermos o dia em que nós iríamos voltar, estávamos nessa prioridade e eles estavam atentos à gente”, conta Álvaro. A equipe conseguiu voltar ao Brasil no dia 20 de março.
Gustavo Cunha e Luiz Roberto Magalhães - Ascom – Ministério da Cidadania